Gypsies, tramps and thieves: uma revisão histórica, social e jurídica do desamparo aos ciganos no Brasil
Abstract
Este ensaio se propõe a analisar, ainda que sem exaurir o tema, os dilemas históricos, sociais e jurídicos enfrentados pelos ciganos brasileiros. É sabido que desde o momento no qual se originam, estes povos enfrentarão, em considerável parte das ocasiões, o rechaço das sociedades com as quais tiveram contato. Ao chegar no Brasil, o que se estima ter sido ao final do século XVI, a recepção aos ciganos não foi muito diferente daquela na península ibérica: os preconceitos e a repressão estatal vivenciados pelos povos em questão parecem haver sido importados em sua integralidade. Ainda que os paradigmas e princípios do ordenamento jurídico tenham passado por alterações com o avançar do tempo, os resquícios de uma marginalização histórica ainda cobram preço na vida dos povos ciganos. Ao longo deste ensaio, serão apresentados algumas especificidades do racismo brasileiro que, por fim, sugerem dilemas distintos àqueles vividos pelo grupo em outras jurisdições. É tão somente após quatrocentos anos de presença cigana no país que, com a Constituição de 1988, um mínimo de amparo parecer ser-lhes assegurado. Em vigor e acrescida da efervescência do ativismo pró-minorias, surge, em 2015, a possibilidade de criar um marco legal de proteção aos ciganos. Com o "Estatuto do Cigano" em elaboração, apesar da importância do instrumento na consecução dos nobres fins aos que se propõe, o marco representa apenas o início de uma longa travessia rumo à igualdade e o reconhecimento do cigano como sujeito ativo da história doméstica. Este ensayo se propone a analizar, aunque de manera no exhaustiva, los dilemas históricos, sociales y jurídicos enfrentados por los gitanos brasileños. Es cierto que desde el momento en el que se origina, este pueblo enfrentará, en considerable parte de las ocasiones, el rechazo de las sociedades con las cuales han tenido contacto. Cuando llegan a Brasil, lo que se estima haber ocurrido a fines del siglo XVI, los gitanos no perciben mucha diferencia a lo experimentado en la península ibérica: los prejuicios y la represión estatal ante el pueblo parecen haber sido "importados" de forma integral. Aunque los paradigmas y princípios del ordenamiento jurídico cambian con el avance del tiempo, los resquicios de la marginación histórica aún cobran el precio en la vida del pueblo gitano. Se presentarán al largo de este ensayo algunas especificidades del racismo brasileño que, al fin y al cabo, aportan, en el país, dilemas distintos a los vividos por este grupo en otras jurisdicciones. Trás cuatrocientos años de su presencia en Brasil, es tan solo con la Constitución de 1988 que se les brinda un mínimo de amparo. En su vigor, añadida de la efervescencia de movimientos de activismo social para las minorías, surge, en el 2015, la posibilidad de crear un marco legal de protección a los gitanos: el "Estatuto do Cigano”. A pesar de que se manifieste como notable instrumento a los nobles fines a los que se propone, representa apenas el início de una larga travesía rumbo a la igualdad y el reconocimiento del gitano como un actor relevante en la história del país.