Entre Chicago e Salvador: Donald Pierson e o estudo das relações raciais

Autores

  • Marcos Chor Maio Fundação Oswaldo Cruz
  • Thiago Da Costa Lopes Fundação Oswaldo Cruz

Palavras-chave:

Donald Pierson, história transnacional, relações raciais, Escola Sociológica de Chicago, Robert Park.

Resumo

Este artigo analisa, de uma perspectiva histórica transnacional, a pesquisa sobre relações raciais desenvolvida pelo sociólogo norte-americano Donald Pierson na cidade de Salvador entre 1935 e 1937, que resultou na sua tese de doutorado defendida na Universidade de Chicago sob orientação de Robert Park. Partimos da hipótese de que a forma como o sociólogo apresenta e analisa o vasto material coletado na Bahia, assim como as proposições de caráter mais geral contidas em seu livro, somente adquirem significado quando se explicita, além dos diálogos com os cientistas sociais brasileiros, seu enquadramento conceitual subjacente, que remonta à agenda de pesquisas capitaneada por Robert Park. 

Biografia do Autor

Marcos Chor Maio, Fundação Oswaldo Cruz

Marcos Chor Maio é sociólogo, Doutor em Ciência Política pelo IUPERJ, Pesquisador do Departamento de Pesquisa da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Professor do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS/COC/Fiocruz) e pesquisador do CNPq 1B. É autor de Nem Rothschild, Nem Trotsky: o pensamento anti-semita de Gustavo Barroso (1992) e  coeditor de diversas coletâneas, entre as quais: Raça como Questão: História, Ciência e Identidades no Brasil (2010). Suas áreas de interesse são: História das Ciências Sociais no Brasil; Raça, Ciência e Saúde no Pensamento Social no Brasil; as interfaces entre sociologia, antropologia e psicologia social nos estudos sobre raça e racismo.

Thiago da Costa Lopes

 

Thiago Da Costa Lopes, Fundação Oswaldo Cruz

Thiago da Costa Lopes possui bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É mestre em História das Ciências pelo Programa de História das Ciências e da Saúde (PPGHCS/COC/Fiocruz – Rio de Janeiro). Atualmente realiza o doutorado pelo mesmo programa. Em coautoria, escreveu, dentre outros, os seguintes artigos: “Da escola de Chicago ao nacional-desenvolvimentismo: saúde e nação no pensamento de Alberto Guerreiro Ramos (1940 - 1950)”.Sociologias, v. 14, p. 290-329, 2012, e “‘For the establishment of the social disciplines as sciences’: Donald Pierson e as Ciências Sociais no Rio de Janeiro (1942 – 1949)”, Sociologia & Antropologia, v. 5, p. 343-379, 2015.

Referências

AKYRA, Iriye. The rise of global and transnational history. Journal of Transnational American Studies, v. 5, n. 1, p. 2-19, 2013.

BASTIDE, Roger & FERNANDES, Florestan. O preconceito racial em São Paulo. Instituto de Administração da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo. Publicação n. 118, abril de 1951.

BRAM, Joseph. Book Review. Negroes in Brazil: a study of race contact at Bahia. American Anthropologist, v. 46, p. 543-545, 1944.

BRASIL JR., Antônio da Silveira. Passagens para a Teoria Sociológica: Florestan Fernandes e Gino Germani. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011.

BROCHIER, Christophe. De Chicago à São Paulo: Donald Pierson et la sociologie des relations raciales au Brésil. Revue d'Histoire des Sciences Humaines, Publications de la Sorbonne, Paris, 2011, p.293-324.

BULMER, Martin. The Chicago School of Sociology – Institutionalization, Diversity, and the Rise of Sociological Research. Chicago: The University of Chicago Press, 1984.

CARDOSO, Fernando Henrique. Resenha. As elites de cor. Anhembi, São Paulo, v. 19, n. 55, p. 121-124, 1955.

CHAPOULIE, Jean M. La tradition sociologique de Chicago (1892- 1961). Paris: Éditions du Seuil, 2001.

CLAVIN, Patricia. Defining Transnationalism. Contemporary European History, v. 14, n. 4, p. 421-439, 2005.

COSTA, Sérgio. Desprovincializando a Sociologia: a contribuição pós-colonial. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 21, n. 60, p. 117-134, 2006.

COULON, Alain. A Escola de Chicago. São Paulo: Papirus, 1995.

EUFRÁSIO, Mário. Estrutura urbana e ecologia humana. São Paulo: Editora 34, 1999.

FREIRE JUNIOR, Olival; SILVA, Indianara. Diplomacia e ciência no contexto da Segunda Guerra Mundial: a viagem de Arthur Compton ao Brasil em 1941. Revista Brasileira de História, v. 34, n. 67, p. 181-201, 2014.

GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Cor, classes e status nos estudos de Pierson, Azevedo e Harris na Baia: 1940-1960. In: MAIO, M. C & SANTOS, R. V. Raça, ciência, sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz, p. 282-294, 1996a.

_____. O projeto Unesco na Bahia. Colóquio Internacional “O Projeto Unesco no Brasil: uma volta crítica ao campo 50 anos depois”. Salvador, Bahia, julho de 2004. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/sociologia/asag/O%20Projeto%20UNESCO%20na%20Bahia.pdf. Acesso em: 10/2/2017.

HASENBALG, Carlos. Entre o mito e os fatos: racismo e relações raciais no Brasil, Dados, v. 38, n. 2, p. 355-374, 1995.

HEILBRON, J.; GUILHOT, N.; JEANPIERRE, L. Toward a transnational history of the Social Sciences. Journal of The History of the Behavioral Sciences, v. 44, n. 2, p.146-160, 2008.

LIMONGI, Fernando. A Escola Livre de Sociologia e Política. In: MICELI, S. (org.). História das ciências sociais no Brasil, v. 1, São Paulo: Sumaré/ Fapesp, p. 217-233, 1989.

MAIA, João Marcelo E. A sociologia periférica de Guerreiro Ramos. Cadernos CRH, v. 28, n. 73, p. 47-58, 2015.

MAIO, Marcos Chor. A história do Projeto Unesco: estudos raciais e ciências sociais no Brasil. Tese de Doutorado (Ciência Política). Rio de Janeiro, Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), 1997.

–––––; OLIVEIRA, Nemuel da Silva; LOPES, Thiago da Costa. Donald Pierson e o Projeto do Vale do Rio São Francisco: cientistas sociais em ação na era do desenvolvimento. Dados,v. 56, n. 2, p. 245-284, 2013.

MULCAHY, Kevin. Cultural Diplomacy and the Exchange Programs: 1938-1978. The Journal of Arts Management, Law, and Society, v. 29, n. 1, p. 7-28, 1999.

PARK, Robert E. & BURGESS, E. W. Introduction to the Science of Sociology. Illinois: University of Chicago Press, 1921.

PIERSON, Donald. Por que eu vim à Bahia. Revista da Faculdade de Direito da Bahia, Salvador, v. 11, p. 89-93,1936.

_____. Um mestre da ciência social. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, v. 76, ano 7, p. 165-168, 1941.

_____. Robert E. Park: sociólogo pesquisador. Sociologia, São Paulo, v. 6, n. 4, p. 282-294, 1944.

_____. Brancos e pretos na Bahia. Estudo de Contacto Racial. Brasiliana. Biblioteca Pedagógica Brasileira. Rio de Janeiro: Campanha Editora Nacional, 1945.

_____. Teoria e pesquisa em Sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1945b.

_____. Algumas atividades no Brasil em prol da Antropologia e outras ciências sociais. In: CORRÊA, Mariza. História da Antropologia no Brasil (1930 – 1960). Testemunhos: Emílio Willems e Donald Pierson. Campinas: Unicamp, p. 30-116, 1987

RAJ, Kapil. Beyond Postcolonialism... and Postpositivism. Circulation and the Global History of Science. Isis, n. 104, p. 337-347, 2013.

ROMO, Anadelia. Brazil’s living museum: race, reform, and tradition in Bahia. North Cartolina University Press, 2010.

SANSONE, Lívio. Estados Unidos e Brasil no Gantois: o poder e a origem transnacional dos estudos Afro-brasileiros. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 27, n. 79, 2012.

SECORD, James A. Knowledge in transit. Isis, n. 95, p. 654-672, 2004.

SILVA, Isabela O. P. De Chicago a São Paulo: Donald Pierson no mapa das Ciências Sociais. Tese de Doutorado (Antropologia). São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Universidade de São Paulo), 2012.

SIVASUNDARAM, Sujit. Sciences and the Global. On Methods, Questions, and Theory. Isis, n. 101, p. 146-158, 2010.

THELLEN, David. The nation and beyond: transnational perspectives on United States history. Journal of American History, v. 86, p. 965-975, 1999.

TYRRELL, Ian. Reflections on the transnational turn in United States history: theory and practice. Journal of Global History, v. 4, n. 3, p. 453-474, 2009.

VALLADARES, Licia do Prado (org.). A Escola de Chicago – Impacto de uma tradição no Brasil e na França. Rio de Janeiro: IUPERJ, 2005.

–––––. A visita de Robert Park ao Brasil, o “homem marginal” e a Bahia como laboratório. Caderno CRH, v. 23, n. 58, p. 35-49, 2010.

VILA NOVA, Sebastião. Donald Pierson e a Escola de Chicago na Sociologia Brasileira: entre humanistas e messiânicos. Lisboa: Coleção Vega Universidade, 1998.

VILLAS BÔAS, Glaucia. Leitura proibida: a Sociologia brasileira e a questão racial na década de 30. In: VILLAS BÔAS, Glaucia (coord.). Territórios da língua portuguesa: culturas, sociedades, políticas. Rio de Janeiro: IFCS-UFRJ, p. 115-120, 1998.

Downloads

Publicado

2017-04-17