Maravilhosas possessões

Autores

  • Stephen Greenblatt

Resumo

Esse artigo analisa o significado das ações narradas por Cristóvão Colombo ao reportar suas viagens, lidas aqui como atos discursivos. Seu anúncio da posse da terra descoberta é assim visto como um ato lingüístico, cuja eficácia deriva da não-contradição por parte dos nativos a quem a mensagem foi direcionada. O formalismo extremo deste ato é caracterizado pela observância de uma forma pré-concebida e pela completa indiferença com relação à consciência do outro. Considerando que o importante na presença européia na América é a realidade brutal de poder e, ainda, que palavras acompanham eventos, o autor mostra como os europeus lograram impor sua experiência através do controle do discurso - ou seja, conferindo-lhe justificativa ética e legitimidade. Colombo empregou o termo "maravilhoso" - onipresente em seus escritos - não só para expressar um senso estético sobre a terra americana, mas também como estratégia retórica calculada a serviço de um processo de legitimação. Esse "maravilhoso" legitimou e transcendeu o ato da posse, permitindo que ele batizasse a nova terra (ou, na verdade, a rebatizasse) em nome dos reis da Espanha. Nomear é apropriar-se, e esse anúncio esperançoso de posse acompanhou Colombo até o fim de seus dias.

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Publicado

1989-06-01

Edição

Seção

Artigos