O que documentam narrativas de experiência pessoal?: possibilidades heurísticas de entrevistas de história oral

Data
2015
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Resumo

Entrevistas de história oral e demais relatos de experiência pessoal são, com frequência, produzidos e/ou consultados em pesquisas nas áreas de história e ciências sociais. Muitas vezes, contudo, pesquisadores e estudiosos não sabem bem o que fazer com o material que têm em mãos. Como analisar entrevistas? O que extrair de longas narrativas, transcritas ou ainda em áudio ou vídeo? Que sentidos tirar dali e como combinar esses sentidos com os de outros documentos e fontes? Nem sempre uma entrevista pode nos ajudar a avançar em nossas pesquisas – e, nesse caso, é bom se perguntar por que não pode, especialmente se tínhamos a expectativa de que ela pudesse servir de fonte. Mas há entrevistas especiais, seja porque nos surpreendem, seja porque abrem caminho para novas ideias e conjecturas. Elas efetivamente ensinam algo, ou documentam sobre aquilo que estamos estudando. Têm, pois, um valor heurístico. Há algum tempo venho procurando ressaltar essas possibilidades da fonte oral, que, em certa ocasião, denominei de 'além das versões' . Qualificar uma entrevista de 'versão' é, dependendo do caso, empobrecê-la, como se fosse mais uma entre muitas possibilidades de interpretação de um fato. Se concebemos entrevistas como 'versões', todas plausíveis, corremos o risco de cair numa espécie de relativismo exacerbado onde tudo é válido. Por isso, optei, recentemente, por substituir as 'versões' que constavam em texto meu de 1990, por 'narrativas'. É claro que a análise de uma entrevista não pode prescindir de um entendimento de seu contexto. Precisamos saber quem fala o que para quem, por que, quando e como. Não basta considerar o enunciado; é preciso refletir sobre as condições de enunciação. Para quem falam nossos entrevistados? Para nós, os entrevistadores, certamente – e por isso é tão importante saber quem é o entrevistador e como ele se apresentou para seu interlocutor. Em muitos casos, o entrevistado também fala para nossas instituições, depositárias das entrevistas e, não raro, vistas como depositárias da própria 'História'. Dependendo da situação, o entrevistado também fala para aqueles que, no seu entender, vão escrever a história daquele acontecimento ou período. E, finalmente, ele fala para os pares – tanto os que participaram e participam do mesmo movimento ou ação como os opositores. As gravações de nossas entrevistas também documentam coisas. Documentam como o entrevistado quer ser visto e o que quer nos contar, bem como a própria relação de entrevista. E documentam a narrativa se constituindo. É no momento da entrevista que o diverso, o irregular e o acidental entram numa ordem, dada pelo entrevistado e pela presença ou pela ação dos entrevistadores. Nesse texto todas essas questões serão consideradas, mas também e principalmente as possibilidades de entrevistas e demais narrativas de experiência de vida constituírem realidades, ou, nas palavras de Jean-Pierre Albert, sua (das narrativas) capacidade, enquanto linguagem, de revelarem o próprio pensamento. Partindo do episódio de um diálogo entre Helena Valero e seu marido Fusiwé reproduzido por Ettore Biocca em Yanoama, Albert discute situações nas quais o indizível se torna dizível e a palavra favorece as tomadas de consciência. Tendo essa perspectiva heurística em mente (ou seja, para além das 'versões'), o texto discutirá possibilidades de interpretar e analisar algumas entrevistas que compõem o acervo do Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas.


Descrição
Mesa redonda 'Narrativas e biografias na pesquisa empírica: métodos e perspectivas' - Coordenação Prof. Dr. Hermílio Santos - 17º Congresso Brasileiro de Sociologia
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